Enquanto sou embalado pelo movimento suave,
o sol rasga pela janela,
ilumina até aquilo que não queres.
Vejo-te pela primeira vez,
neste sol,
a tua pele brilha,
vejo tudo aquilo que te faz (im)perfeita.
As imperfeições, as perfeições,
os teus sinais, as tuas rugas,
os teus lábios semi-pintados.
Analiso todos os pormenores,
todos, não me escapa nenhum,
reanaliso todos os pormenores,
fecho os olhos e tento lembrar-me.
Conto todos os detalhes,
um, dois, três..
Volto a contá-los,
um, dois, três..
Agora não preciso, estás aqui.
Quando estiver sozinho,
vou fechar os olhos,
e vou imaginar-te,
exactamente na mesma posição,
com o mesmo olhar,
com os mesmo trejeitos.
Tento não perder nada,
é difícil, o ruído à volta,
torna-se ensurdecedor,
mas resisto.
Através dos discos de vidro,
uma pequena ilha preta,
nada num mar castanho,
o canto está lacrimejado,
não me questiono, percebo.
Não sei se é do sol,
se é de tudo o resto,
mas percebo.
O olhar prolonga-se,
percebes que estás a ser observada,
incomoda-te tanto,
que passas a mão pelo cabelo,
numa tentativa de afugentar o olhar,
baixas a cara, tentando ignorar,
eu não consigo parar.
És frágil, mas não o mostras,
sempre o lado duro
e não te abres.
Tento pensar em algo inteligente para dizer,
não consigo, estou ofuscado,
pelo quê não sei!
Talvez pelo sonho,
talvez pela realidade.
Quero sentir os teus dedos esguios nos meus,
ensaio umas quantas vezes,
mas não consigo, algo me retrai.
Oiço no fundo da minha cabeça:
“You should feel what I feel
You should take what I tell you”.
Os teus lábios,
tão tenros, tão rosa,
como é que serão junto dos meus?
Raras as vezes que sou coerente,
eu nunca digo exactamente o que quero dizer,
e nunca o que eu quero dizer é exactamente aquilo que eu digo.