Sonhar

Ontem sonhei contigo, estávamos no meu terraço encostados aos vidros à conversa com amigos, eu de mãos atrás das costas, e tu do meu lado esquerdo junto a mim enquanto conversava.

De repente, sinto a tua mão a entrelaçar-se na minha, à vista de todos, mas escondido de todos, não reajo imediatamente, paro, olho, escuto, como se algo fosse passar, mas tarde de mais, já tinha sido atropelado, um silêncio ensurdecedor instala-se, e tudo pára, o que foram 2 segundos, parecem minutos enquanto aperto levemente a tua mão, para garantir que és mesmo tu.

Olho para ti, e faço aquele sorriso parvo do costume, sabes, aquele que faço sempre que te vejo pela 1º vez, aquele que fiz da última vez que cá vieste, ao qual correspondes.

Oiço um barulho ensurdecedor, cíclico, que se repete de 2 em 2 segundos, abro os olhos, pego no telemóvel e desligo o alarme, sento-me na borda da cama, e levanto-me..

Um bem haja a todos..

Quero

Quero acordar,lightning_storm_by_night_fate_stock-d1lsxvk
desprovido de pensamentos,
e ansiedades…

Quero subir ao topo,
de uma montanha,
e deitar-me sobre
a tempestade,
vendo o espectáculo,
de luz e trovões,
a esvaziarem-me a alma.

Quero renascer,
no corpo de uma águia,
e voar livre das algemas da vida.

Quero adormecer,
encostado ao teu seio nu,
enquanto me afagas o cabelo,
e me sussurras palavras doces ao ouvido.

E depois acordar,
ao teu lado,
deslumbrado,
apaziguado e livre…

Quero algures no tempo,
fechar os olhos,
para não mais os abrir,
perdendo-me de vez,
neste universo infindável,
e nunca mais acordar,
ficando realizado
por completo este pequeno momento a que chamamos vida.

Um bem haja a todos..

Um acordar diferente

Acordo, sinto o leve cheiro a mofo no sótão, o peso das mantas pesa-me no corpo.

Um tímido raio de sol entra pela janela pequena que não oferece vista alguma. Deixo-me estar deitado e espreguiço-me… embriagado de sono, perco-me nos meus pensamentos..

Levanto a cabeça e olho em redor, nem viva alma, viro-me para o outro lado, e tento aproveitar mais uns minutos de sono… Oiço passos ao longe, conversa e galhofa… e deixo-me só com os meus pensamentos e letárgico e de olhos fechados…

Meio acordado, meio a dormir oiço barulho.. abro os olhos e espreito pelas mantas, o tímido raio de sol cega-me ligeiramente, vejo apenas uma figura alta que se dobra em torno da roupa, foco e fecho os olhos a medo, e até de respirar paro, tentando ficar o mais imóvel possível debaixo das pesadas mantas.

Tento ficar imóvel enquanto espreito por entre as mantas, e não vejo mais que o perfil e uma t-shirt a passar pela cabeça, foco-me nas feições, o nariz de tamanho perfeito, o queixo enquadrado, as sobrancelhas perfeitas, cabelo apanhado(?), e os lábios rosados acabados de acordar. Tento não racionalizar o que vejo, para não sentir culpa de ver o ser profundo, o ser a nu… analiso os pormenores do ajeitar, preparar e compor e ficar ainda mais bela como se nada fosse…

O tempo abranda, todos os movimentos perfeitamente sincronizados, o rodar do braço enquanto passas a mão pelo cabelo, pelo corpo a ajeitar as rugas deixadas pela roupa, uma perna esticada e a outra ligeiramente dobrada, o peito a encher-se de ar e de seguida a esvaziar, tudo o resto desaparece de cena. Verificas os últimos pormenores, o olhar para o espelho para a confirmação que tudo está onde deveria estar…

Fecho os olhos, e tento lembrar-me de tudo, para gravar de vez na minha memória todos os movimentos, todo o bailado e sinfonia envolvido no ritual, sinto-me envergonhado, vi algo belo mas que era proibido, mas como é que algo tão belo não pode ser permitido? Sinto-me culpado! Mas não consegui deixar de observar o ritual, de ver os pormenores que te tornam ainda mais bela.

Volto a abrir os olhos e estás sentada na ponta da tua cama, finjo que acordo e digo bom dia…

Um bem haja a todos..

Devaneios

Hoje fui ter com 2 casais amigos, que tiveram filhas há uns meses atrás… ainda não tinha conhecido as miúdas e antes que fosse convidado para o casamento delas sem as conhecer fui lá visitá-las…

E quando voltava para casa não podia deixar de pensar: “Se calhar deveria arranjar uma coisa destas…”

Arranjo uma tipa que seja capaz de me aturar, ponho-lhe um filho na barriga e logo se vê…

E depois penso num dos últimos sábados que tive… acordei eram 13 da tarde ( e deitei-me eram 2 da manhã ), saí da cama e fui para o sofá, e só saí do sofá eram 5 da tarde.. para ir tomar um banho e dar um salto ao Minipreço para comprar qualquer coisa para comer… e depois fiquei até às 4 da manhã ao computador a ver vídeos no Youtube, a ler posts em blogs e por aí adiante..

E como é lógico, no domingo voltei a fazer basicamente o mesmo…

Se calhar, pensando bem… eu até gosto dos meus sábados assim.. mortos, a bezerrar em frente da televisão como se não houvesse amanhã… cérebro completamente desligado de tudo o que se passa à minha volta.. sem pensar em biberons, e fraldas e companhias.. ou se calhar não…

Um bem haja a todos..

Afinal a liberdade de expressão não é para todos..

A bronca estalou, mas foi lá para os lados da Mozzila ( os que estão à frente do desenvolvimento do Firefox, para quem não sabe, e de mais umas coisas ).

É que dia 24 de Março, foi nomeado como CEO o Brendan Eich ( o criador do Javascript, vénia, ou pelo menos umas palmas ), no entanto dia 3 de Abril, já o rapaz se tinha demitido. E aqui é que entra a questão da liberdade de expressão à grande mesmo!

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Pelos vistos o senhor Brendan Eich, não concorda com o casamento Gay, e doou $1,000 para a “Propositon 8” ( aquela proposta para banir o casamento Gay na Califórnia ). E no momento em que se tornou CEO, ouve uma quantidade de comentários no Twitter a pedir a demissão dele por muitos trabalhadores da Mozzila.

Isto vindo de uma empresa que e passo a citar:

“Mozilla believes both in equality and freedom of speech. Equality is necessary for meaningful speech. And you need free speech to fight for equality. Figuring out how to stand for both at the same time can be hard.”

Então onde é que está a liberdade de expressão? Porque é que ele acreditar em algo que é diferente do que eu acredito é errado? Ele não tem direito à sua opinião? Pior, desde quando é que o que ele acredita afecta o trabalho que ele faz, ou afecta a sua relação profissional com o resto da malta da Mozzila? Estamos a falar de alguém que já deve ter falado com milhares de pessoas de todos os tipos e feitos, e que se ele fosse uma pessoa que misturasse o trabalho com a sua opinião pessoal de certeza que já se tinha notado…

Portanto, com que direito é que os trabalhadores da Mozzila, têm de pedir a demissão de alguém baseado na sua opinião sobre um assunto? Onde é que está a liberdade de expressão e a igualdade que eles tanto apregoam? Se eles não respeitam a opinião pessoal do novo CEO só têm de a respeitar, não é fazer beicinho e começar a pedir demissão dele.

Pior ele até fez um comunicado sobre o assunto, no entanto continuaram as críticas.

Até houve quem propusesse boicotar o Firefox por causa dele, WTF!?, isto não faz sentido nenhum.

Ultimamente, parece que quem tem uma opinião contra o que está na moda agora, merece ser completamente excluído de tudo, e pelos vistos também do trabalho. E se tens uma opinião diferente da minha não vales nada.. cada vez mais isto se parece uma ditadura do que uma democracia..

Mas afinal podemos acreditar no que queremos ou não?

E sim, mas ser gay parece que é moda agora, a sério, com as cenas que leio e vejo.. jasus.. faz-me cá uma confusão.. ( e perdoem-me aqueles que ficarão ofendidos com esta afirmação, mas sinceramente é o que me parece )

Em relação à minha opinião pessoal como um jovem heterossexual, não me interessa se um homem gosta de homens, se uma mulher gosta de mulheres ou se gostam de tudo ao molho e fé em deus ( como se eu fosse católico ), é preciso é a malta ser feliz, e pinar como se não houvesse amanhã.. é só isso que interessa.. a malta ser feliz.. querem casar? Casem para aí à vontade como se não houvesse amanhã! Querem adoptar? Adoptem à vontade! São felizes dessa maneira? Então sejam felizes.. nada mais interessa.

E atenção a minha opinião pessoal não influencia em nada no desempenho do meu trabalho, já trabalhei com malta homossexual e heterossexual e nunca se pôs isso em causa sequer..

Um bem haja a todos..

Os dois lados da cama

Tenho uma cama,
tem 2 lados.
Mas deveria ter só um…

Se sou só eu,
porque é que tem 2 lados?
Porque é que teimo,
em estar daquele lado?

Porquê não ocupar tudo?
Porquê, ficar sempre,
na beira?
É só minha,
não é de mais ninguém,
então porquê 2 lados?

Quando vieres,
terá apenas um lado.
O nosso lado.

Deixará de haver,
separação,
mesmo nos dias maus,
terá apenas um lado.

E será o nosso lado,
não o teu lado,
não o meu lado,
o nosso!

Um bem haja a todos..

Erros

Devemos ser castigados pelos erros? E pelos erros dos outros? Será que devemos castigar os outros pelos seus erros? E se algo mais importante como a felicidade estiver nos pratos da balança?

Será que devemos esquecer, fechar os olhos, dizer que estava demasiado bêbado e esquecer o assunto? E se não estávamos assim tão embriagados, e simplesmente quiséssemos que assim acontecesse? E se estávamos embriagados mas não de álcool? E se era isto que nós desejávamos? E se foram as circunstâncias que fizeram com que acontecesse?

E se a vergonha afinal não fosse vergonha, mas sim desilusão? E se o silêncio fosse um grito? Um grito ensurdecedor? Um grito que nos faz sangrar dos ouvidos, que nada consegue abafar, que viaja em torno da galáxia destruindo tudo e todos no seu caminho, mas nas suas viagens à volta da galáxia vai perdendo a sua força, sendo apenas uma pequena voz enterrada no fundo do nosso ser, que todos os dias é esquecida, para apenas ser relembrada meses ou anos depois? E qual o significado desta lembrança?

Mas e o momento? Que passado séculos, já não sabemos se foi real ou um sonho…

Mas eu sei que o momento foi real! Esse e todos os outros que o seguiram, foram todos reais, nenhum deles foi um sonho, eu estava acordado! Eu senti, cheirei o momento foi a extinção, a obliteração do tempo e do espaço, o momento é o ponto de foco. Tudo se dirige para esse momento perdido no espaço e tempo.

Mas será que foi um erro? Será que foi um prelúdio? Será que foi o catalisador? E se foi o destino?

E se eu me tivesse envolvido? Ou não? Ou se eu tivesse feito o certo? Ou o errado? O que é o certo? O que é o errado? A dúvida mantém-se!

E se tudo fosse diferente? Ou se tudo fosse igual, mas eu diferente, ou se tu fosses diferente? E se nós fossemos diferentes?

O amplificador está quase no máximo, os phones não distorcem, sinto o ar a mover-se dentro das almofadas, grita-me aos ouvidos: “I’m on the pursuit of happiness …. I’ll be fine once I get it, I’ll be good.”

E se eu não percebo? E se eu não chego lá? E se eu decido dedicar-me ao silêncio? E se eu me decido a gritar? E se decido ouvir esta voz na minha cabeça que me diz: “Esquece, diz que estavas bêbado. Não vale a pena!”? E se eu decido ouvir a outra que diz: “Não te metas nisso!”? Ou a outra que diz: “Arrisca!” Não consigo, o momento não me deixa.

Preciso da conclusão, preciso da definição do momento neste momento! Preciso de assistir ao fim dos tempos, à extinção final do momento, ao morrer do grito, ao morrer da vergonha e da desilusão, preciso! Preciso da resposta que não me é presenteada numa bandeja enfeitada, como se de ar se tratasse.

O som continua a gritar-me aos ouvidos, transformando-se em sinais eléctricos nos meus ouvidos que transmitem prazer ao meu cérebro, gritam alto, mas apenas o suficiente para eu me esquecer do momento e apenas o suficiente para para me concentrar no trabalho, mais um pouco de volume e o momento reaparece, e o trabalho desaparece..

Os dedos martelam furiosamente no teclado, talvez ansiedade, talvez ódio, talvez apenas trabalho, fazendo uma sinfonia no escritório vazio de paredes cinza e laranja enquanto me afogo no trabalho e em cigarros e o meu estômago se queixa que são horas de ir jantar..

E se simplesmente perdoássemos os nossos próprios erros? Será que resolvia o momento? Será que assistiríamos finalmente à sua morte, para sempre enterrada e em descanso para todo o sempre?

Um bem haja a todos…

Quinta da Saudade

Foi numa noite de Outono, que nos pusemos a caminho,
por entre as estrelas,
seguindo a caminho do Minho..

Chegados a Darque,
estafados,
logo fomos presenteados,
com um malga de tinto.

Perante um pedaço,
de história com 101 anos,
cada passo,
era um trespasso..
A história,
não dava escapatória,
os quadros gelados,
lembram a vida de outros tempos.

Vindimar,
entre conversas,
aranhas e formigas,
e a meio parar,
para merendar.

Mais vindimar,
para depois regalar.

Almoço, feijoada à transmontana,
sim porque vindimar,
dá fome,
fome de comida,
e fome de vinho.

Hora de pisar,
acompanhados,
por uma guitarra,
e canções tradicionais,
o engaço enrolado,
nos dedos,
e as pernas tintas.

E chega a hora da despedida,
entre beijos,
abraços,
o pinheiro gigante,
desaparece ao fim de umas curvas..

Obrigado à família Borges pelo magnífico fim de semana.

Fotografia do cata vento da autoria de Carlos Silva

Escolhas…

A minha mente está um caco,
sinto um cansaço,
a criação a surgir,
e o mundo a fugir.

Que caminho devo tomar?
Por um lado, a infelicidade.
Por outro, a infelicidade,
de nenhum deles posso retornar.

Sinto-me encurralado,
é altura de mudar.
Talvez reiterar,
seja melhor explicado.

Mas não existe explicação,
para isto não,
nas outras cenas,
não existem incertezas.

A escolha está aí,
outra vez caí.

Caí no mar,
a caminho do lugar,
que me faz sonhar,
estou-me a afogar!

Afogo-me no trabalho,
em busca da realização,
ao encontro de algo,
mas não,
obtenho qualquer resultado.

Apenas um buraco negro,
que se alimenta,
de toda a matéria,
até tudo ficar negro.

Tudo é estático,
tudo é movimento,
enquanto me alerto,
para o inevitável.

A escolha,
não há escolha,
apenas a ilusão
da escolha.

Um bem haja a todos..

Paz…

Deito-me no alcatrão,
não sinto frio,
não sinto nada,
sou uno.

Oiço o rugido,
da natureza,
sou cálido,
estou em fraqueza,

A chuva cai-me,
no corpo,
sinto a paz,
a invadir-me.

Estou sossegado,
fecho os olhos,
oiço apenas,
todos os sentidos,
desligados.

O peito,
incha cheio,
de ar,
esvazia,
expelindo,
o ar,
tentando recuperar
o fôlego.

Um clarão,
acorda-me,
tento abrir,
os olhos,
no meio da chuva.

Estou em paz,
levanto-me,
e sigo..

Um bem haja a todos…